Essa diferença entre as modelos comerciais e as fashion  me deixava intrigada com o mundo da moda. As modelos eram sempre magras, altas e com traços europeus, mas uma modelo comercial, apesar de linda, não faria as campanhas das maiores marcas de moda, as mais hypadas, mais caras e desejadas. São as modelos fashion quem estrelam editoriais elaborados e grandes produções, que geram aquele desconforto bom. A beleza delas gera também esse desconforto. Tem algo off, alguma coisa que, apesar de bela, produz aquela estranheza que te faz olhar de novo uma foto. É quase um “oi? quê isso?” Pode ser um olho mais afastado (tipo Kate Moss), pode ser o dente separado (à la Lindsey Wixon), ou algo que não dá mesmo pra descrever, essas modelos te passam uma sensação diferente.

O curioso pra mim era que, na prática, as modelos fashion também servem a um objetivo comercial. A moda também quer vender, e não é pouco – essa indústria movimenta 3% do PIB mundial. Na verdade tô falando disso porque todo mundo quer vender alguma coisa, nem que seja a si mesmo enquanto profissional.

Agora me acompanha nesse outro raciocínio: quando fazemos nossos trabalhos a gente se cobra horrores, quer fazer tudo absolutamente perfeito, dentro da estética que acredita e de forma a agradar nosso público ou cliente. E às vezes olhamos pro resultado e achamos uma grande porcaria. Não dá vontade de postar, às vezes não temos coragem nem de mostrar pra mãe, porque só enxergamos o que deu errado ali, aquele maldito detalhe que estraga tudo.

Mas imagina se ao invés de odiar, passássemos a usar o erro como linguagem? Se a gente chamasse os deslizes de estética fashion. Ou de provocação calculada. Olha, eu não to querendo fazer a safada, perdoar todas as trapalhadas ou incapacidades que talvez a gente viva – tô pensando mais em abraçar os erros possíveis, aqueles que de repente podem virar uma marca registrada do seu trabalho e elevar o seu status. Não sei se é uma câmera com pouca qualidade, um cenário improvisado, linhas tortas, modelos reais, cabelo com frizz, vc que me diz.

Eu sinto que só comecei a ficar mais à vontade pra me achar boa e pra criar as coisas que eu gosto depois que abracei alguns erros. Eu queria tanto fazer belezas perfeitamente simétricas, irretocáveis, os cabelos sem um fio fora do lugar. E ERA CHATO. Tanto de fazer quanto de ver. Eu me sentia uma técnica sob pressão servindo ao mundo comercial. Quando fiz minha primeira foto de beleza ligando o foda-se pra simetria eu me senti uma maquiadora mais fashion, e algumas coisas foram mudando, incluindo clientes melhores 😀

Pensa também nessa estética de fotos meio desfocadas, borradas, com luzes e brilhos estourados. Não parece uma tentativa que deu errado? E é tão lindo!!!

Foto do Thiago Dias para minha amada e finda Delirio Glitter. Estrelando: Tati Alves, deusa e rainha!
Foto do Thiago Dias para minha amada e finda Delirio Glitter. Estrelando: Tati Alves, deusa e rainha!

Enfim, veja aí nos seus trampos se dá pra elevar o status do seu erro. Coloque esse erro no colo, faça nele um carinho e renomeie para linguagem
<3

Beijos!