Começamos do começo. Vou te contar sobre a primeira vez que fiz uma foto de moda na vida. Eu já adianto que quando eu cheguei em casa depois do job eu tremia, meu corpo inteiro chacoalhava, mas nem o frio de julho em SP justificaria. Eu tremia de aflição. E de satisfação! Explico:

Comecei a trabalhar com maquiagem no salão do Marcos Proença <3 e lá eu só fazia make, nada de cabelos. Aí uma das sócias do salão me chamou pra fazer a beleza de umas fotos que ela ia produzir pra sua marca de biquínis. Eu logo falei que eu não fazia cabelo, mas ela falou: “Vai ser tranquilo, Bel! É cabelo de praia, só precisa de um babyliss!” Eu continuei dizendo que não fazia, podia ficar ruim… mas ela insistiu (coisa linda e aterrorizante é alguém ter confiança na gente) e eu fui comprar um babyliss e um spray, porque as fotos eram NO DIA SEGUINTE. Na época o youtube era mato, não dava pra maratonar na madrugada: era viver pra saber.

Cheguei no estúdio, uma casa maravilhosa num bairro chique. A luz que já tava montada era um PARA (um refletor tipo sombrinha prateada do tamanho do corpo da modelo, o nome faz alusão a uma antena parabólica mesmo). Eu nunca tinha visto nada daquele tipo e senti um frio na espinha, uma sensação de que eu tava prestes a viver algo muy loco. Aí chegou o fotógrafo: Andre Schiliro. HAHAHA 
Eu – ex cientista social que não conhecia ninguém das modas – não sabia quem ele era, mas pensa num cara ultra talentoso que já fotografou muuuuitas celebridades (Xuxa, Gisele, Pelé, Carol Dickman, Sabrina… vai lá ver: @andreschiliro). Mesmo sem saber nada sobre ele deu pra sacar que era um cara bom. Tranquilo, direto, assertivo. E rápido! Eu tinha uma puta responsa nas mãos.

Comecei a fazer a modelo, primeiro a make, que eu garantia. Aí veio o cabelo. Olha, eu conseguiria controlar melhor um punhado de macarrão ao sugo com as mãos. O cabelo da menina não parava, escorregava, eu não sabia fazer as divisões, não tinha o material adequado… e tentando segurar a onda, tinha que ao menos parecer que sabia o que eu tava fazendo. Mas olhando pra ela pelo espelho eu via que ela tava super de boas, na verdade ELA NÃO TAVA NEM AÍ hahaha Era linda e uma graça de pessoa, mas não tava preocupada com o andamento da coisa.

Isso foi algo que comecei a aprender nesse dia: nem todo mundo tá achando aquele o trabalho mais importante de suas vidas, então a maioria das pessoas está ali fazendo um job, uma coisa cotidiana que paga as contas. É um mundo legal? É! Mas a gente seacostuma, no fim é um trabalho como outro qualquer. É fundamental ter isso em mente, porque as pessoas não estão gastando muito tutano pra desmascarar seus erros. Então eu relaxei e fui fazendo o melhor que eu podia, normal!

No fim eu já tava dando pitaco na foto, sem saber se devia, se isso fazia parte do protocolo da maquiadora num set. Fui observando e não tinha nenhuma cara feia pra mim, então segui falando, pouco, mas sempre. Deu tudo certo.

Cheguei em casa tremendo achando que era frio, aos poucos fui processando que eu vivi algo meio mágico: tinha contribuído com uma criação que horas antes não existia e que continha um potencial, uma missão e um conceito que vinham da soma de várias individualidades, experiências e saberes. Uma co labor ação artística que, sim era voltada para o lucro capitalista etc. e tal – cabeça de cientista social nunca deixa de pensar nisso – mas que perpetuava a existência de cada um que trabalhou junto naquele dia. Eu me apaixonei pelo infinito de possibilidades e nunca mais parei de buscar viver esse tipo de encontro, mesmo que provoque tremedeira. Na verdade, eu vivo pra correr atrás de sentir aquilo de novo e de novo.

ENTONCES: tudo isso pra dizer que na próxima vez que tiver a oportunidade de sentir uma sensação de quase morte (morte boa), agarra isso e vai viver essa emoção! Tem uma grande chance de você descobrir que era justo o que faltava.