Sejamos claras: pode ser que sua carreira de artista não seja só fama, glamour e trabalhos legais. É um palpite, apesar de eu desejar que gordos fluxos de riqueza jorrem sobre sua bela cabeça criativa. Começos (e às vezes meios) são difíceis, e hoje quero falar sobre como não passar fome, apesar dessa sua mania de querer ser artista (igualzinha a minha).

A maioria dos artistas que admiramos tem ou já teve um trabalho que paga as contas, e a arte vem no tempo que resta. Claro que seria incrível ter um mecenas, mas né… herdeiros são poucos! Fato é que barriga vazia e cabeça nas contas são incapazes de criar, então é bem estratégico descolar um trabalho – que você não precisa amar – que resolva suas contas pra você poder se dedicar sem tanta pressão ao seu real tesão criativo.

Eu vou mais uma vez citar a Liz Gilbert, aquela entrevista que falei no último e-mail realmente tem pérolas. Ela conta que em determinado momento precisou falar pra criatividade dela: “Fica tranquila. Você não precisa me sustentar, eu sou trabalhadora o suficiente para sustentar a nós duas.” Fada, SENSATA!

Às vezes o trabalho vai ter a ver com a arte – na maquiagem por exemplo pode ser trabalhar num salão, fazer sobrancelhas delivery, ou maquiar para fotos que talvez você nao publique. Às vezes vai ser algo nada a ver com o seu rolê, tipo servir mesas 🙂 mas pode fazer até bem desfocar totalmente e voltar pros seus projetos voraz e com saudade. O importante é não odiar o job e pagar as contas.

Há pouco mais de 3 meses eu fiz uma mudança total de vida, estou em outro país (Portugal) e começando do zero, numa região com hábitos totalmente diferentes do Brasil. Enquanto vou fazendo meus contatos e projetos eu toco alguns trabalhos para o Brasil, mas converter real em euro nesse 7×1 não é tranquilo, não é favorável. Então até dar pé pra maquiar aqui precisei correr atrás do básico. (Trabalho num restaurante em Alvalade, é lindo, a comida é incrível, a equipe é mara e são 5 horas por dia, 4 vezes na semana – o que chamam aqui de part-time). Menos ego, mais dinheiro no bolso e cabeça mais tranquila no travesseiro.

Tem esse cara, o Maslow, que criou a pirâmide das necessidades. Segundo ele, para alcançar a realização pessoal (que inclui criatividade e o estado de flow que tanto amamos) um ser humano precisa ter a garantia de que consegue saciar suas necessidades mais básicas (comida, moradia, sono, etc). A imagem é daqui.

Eu sei que no BR tá tenso, muita coisa fechada e muito perigo com esse virus fdp, além de não estar rolando trabalho fácil; mas quero te provocar pra pensar no que você pode planejar agora e agir assim que possivel. Uma amiga perfeita me perguntou antes de eu me mudar: “Bel, legal que você tem esses planos de fazer sucesso na Europa, mas QUAL O SEU PLANO B? E mais, o que você não faria de jeito nenhum?
 
Duas coisas muito importantes sobre ter um trabalho pra pagar as contas – o famoso #dayjob :

  • Ele vai te fazer valorizar seu tempo livre, é provável que você crie com mais consistência e paixão porque o tempo é curto (humanos reagem bem a restrições de tempo: veja as mães por exemplo, são as pessoas mais produtivas da galáxia com um tempo ultra escasso)
  • Ele vai te ajudar a enxergar pequenos detalhes que normalmente você não enxergaria se estivesse afundada em dívidas ou só presa dentro de casa tentando produzir algo mágico, além de provavelmente te apresentar a pessoas interessantes ou contatos quentes ou pessoas horríveis que te inspirarão de alguma forma a criar.

 
Resumo:

Não abandone o seu trabalho para ser artista
. Só se vc o odiar muito e encontrar um outro que você não odeie. Não é abandono, é uma troca esperta.
Se não tiver um trabalho tente arrumar um, mesmo que seja meio período, mesmo que precise abaixar seu padrão (só quem liga para o seu padrao é o seu ego e sua vontade de agradar os outros. É hora de alimentar seu artista).
Organize a rotina de acordo com o horário do trabalho, mas priorize seus momentos criação (menos netflix e instagram, mais o que você mesma disse que ama fazer)
Entenda que pessoas com trabalhos normais talvez produzam menos do que que vive só de arte, e tudo bem, tudo a seu tempo.
 
Semana que vem quero seguir falando de dinheiro, me conta suas dúvidas sobre isso?

Beijos!